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A Ordem dos Mercedários na Igreja

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A Ordem dos Mercedários na Igreja

A história da Ordem dos Mercedários na Igreja começa com uma atitude de renúncia de um jovem que recebeu uma valorosa herança, cujo dinheiro usou unicamente em benefício do próximo. 

Estamos falando de São Pedro Nolasco. Vamos conhecer sua história e a fundação da Ordem dos Mercedário na Igreja, cujos membros são conhecidos como freis ou frades mercedários.

Uma história de guerra e escravidão

Para compreendermos melhor como foi que tudo começou, precisamos voltar no tempo e olharmos para a realidade vivida por São Pedro Nolasco.

O jovem Pedro viveu em um tempo em que a Europa medieval vivia em guerras constantes, devido à expansão da cultura muçulmana que pretendia dominar o mundo. 

Os cristãos precisavam lutar para defender sua fé, já que os árabes haviam tomado o Norte da África, grande parte da Espanha, o sul da França e a Sicília – região da Itália. 

Além disso, os árabes sarracenos roubavam dos cristãos os alimentos, os animais, os metais preciosos e o dinheiro. E o mais absurdo: capturavam e prendiam mulheres, crianças e homens. Estes eram vendidos como escravos por um bom preço ou então eram usados como moeda de troca em transações comerciais.

Ao longo de mais de 600 anos, conflitos armados fizeram numerosos prisioneiros cristãos.

Ao mesmo tempo, nestes tempos, surgiram muitos hospitais fundados por Ordens Monásticas, além de centenas de instituições de caridade, que foram estabelecidas por confrarias da Igreja ou por fiéis leigos. O objetivo era sempre ajudar os cristãos cativos a se libertarem dos mulçumanos.

Um desses leigos que fez a diferença nesta dura e infeliz realidade foi o jovem São Pedro Nolasco. 

Desde pequeno, São Pedro Nolasco foi caridoso

São Pedro Nolasco nasceu entre 1180 e 1882, em uma família de posses da França. Foi uma criança feliz, mas que amava o silêncio, o recolhimento e a oração. 

Outra característica marcante que surgiu na sua infância, e que o acompanhou por toda a vida, foi a prática constante da caridade. 

Dessa maneira, o pequeno Pedro Nolasco costumava ajudar com um prato de comida a todos que batiam à porta do castelo onde morava. E não foram poucas as vezes em que tirou o casaco do próprio corpo para entregar a uma criança que sofria com o frio por estar mal agasalhada, nas ruas. 

Antes de tudo, para ele, o mais importante era socorrer o próximo, sem se importar consigo mesmo. E quando ele não tinha com o que ajudar, chorava de tristeza.

Na juventude, São Pedro Nolasco mudou-se com a família para a Espanha. Logo começou a acompanhar o pai na tarefa de vender mercadorias pelas cidades litorâneas. Foi então que ele se deparou com uma triste realidade que não apenas causou-lhe espanto, mas que mudou para sempre a sua vida.

Inúmeras vezes ele pôde testemunhar os maus tratos dos cristãos cativos que eram escravizados, negociados como mercadoria, ou mantidos como reféns dos muçulmanos. Pedro Nolasco desejou ardentemente poder ajudar esses irmãos na fé. 

Uma herança de redenção

Porém, logo o jovem Nolasco perdeu seus pais e recebeu uma rica herança. Apesar da prática da caridade ser constante em sua vida, ele estava acostumado ao conforto do lar e a ter tudo o que sempre precisou. 

Mas isso não o impediu de tomar uma atitude radical. Aqueles que o conheciam, certamente não se surpreenderam, porém para o mundo o que ele fez facilmente pode ser considerado como loucura. 

Afinal, qual foi a atitude desse jovem? Pedro Nolasco, em 1203, com apenas 20 anos, começou a usar o dinheiro da sua herança para a redenção dos cativos. E para isso usou até as suas últimas moedas para comprar a libertação dos cristãos. Ele cuidava também para que esses cristãos não perdessem a fé. 

Por meio da caridade que realizou, Pedro Nolasco queria configurar-se ao próprio Cristo. Visitou os cativos como Jesus visita, quis libertá-los como Jesus liberta.

Contudo, mesmo depois de 15 anos se dedicando a esse trabalho, Nolasco notou que o número de cristãos que eram feitos escravos só aumentava, dia após dia. 

Mas, talvez o que ele não soubesse, é que foram esses 15 anos que permitiram a São Pedro Nolasco ser preparado por Deus para algo grandioso: fundar e cuidar de uma frondosa obra na Igreja, a Ordem dos Mercedários.

Ordem dos Mercedários na Igreja: o chamado

A história relata que na noite do dia primeiro de agosto de 1218, São Pedro Nolasco estava muito inquieto em seu coração. Angustiado com a situação dos cristãos cativos, ele sabia que deveria fazer algo a mais, por isso clamava por uma inspiração divina. 

Foi então que Nolasco foi consolado pela Virgem Maria, que naquele momento foi também para ele portadora de um convite do próprio Deus. “É vontade do meu Filho e minha que fundes uma família religiosa para a redenção dos cativos cristãos”.

Assim, o Senhor desejava que São Pedro Nolasco continuasse o seu trabalho em favor da libertação dos cristãos cativos, porém, agora, a partir de uma Ordem Religiosa que ele deveria fundar. 

Estamos falando da Ordem de Nossa Senhora das Mercês, também chamada de Ordem da Redenção dos Cativos ou ainda da Ordem dos Mercedários.

Para esta nova Ordem, São Pedro Nolasco teve o apoio do Rei Jaime de Aragão e do Bispo de Barcelona, Dom Berenguer Palau. Contudo, conta-se que também o Rei Jaime havia tido uma visão de Nossa Senhora na qual Ela lhe pedia a fundação de uma Ordem para cuidar dos cristãos detidos pelos muçulmanos. 

Além disso, São Raimundo de Penaforte, o confessor de Pedro Nolasco, também o encorajou e o ajudou nesse processo.

O próprio São Pedro Nolasco foi o primeiro a ser investido com o escapulário mercedário da Ordem, branco, em homenagem à pureza da Virgem Maria. Também Dom Berenguer presenteou a nova Ordem dos Mercedários com a cruz da catedral de Barcelona. Já o Rei Jaime deu a Nolasco o brasão de armas da Coroa de Aragão.

Foi então a partir desses dois presentes que o fundador desenvolveu o escudo mercedário. 

Confirmação Pontifícia da Ordem 

A Ordem dos Mercedários surgiu na Igreja em 10 de agosto de 1218. Ela é fruto do amor heroico que o jovem Nolasco tinha pelos cristãos cativos que sofriam porque escolhiam não renunciar à própria fé. 

Neste primeiro momento, a Ordem era uma comunidade restrita à Igreja de Barcelona, e ficava aos cuidados do bispo de Barcelona. 

Contudo, em 1235, deu um grande passo recebendo a Confirmação Pontifícia da Igreja, o que a tornou unida diretamente com o bispo de Roma, ou seja, com o Papa na época Gregório IX.

Por meio da Confirmação Pontifícia, o Sumo Pontífice confirma aquilo que já existe na vida da Igreja. 

Neste tempo, a Ordem dos Mercedários já havia crescido, possuindo 4 conventos e o Mestre Geral era o seu fundador, Pedro Nolasco.

O Carisma da Ordem dos Mercedários 

O carisma é a identidade de uma Ordem religiosa e deve ser vivido por todos os seus membros. 

As constituições da Ordem dos Mercedário determinam: “trabalhem – os frades – de bom coração e de boa vontade em visitar e libertar os cristãos que estão em cativeiro, e em poder dos sarracenos ou de outros inimigos de nossa fé”. Ou seja, este é o carisma dos Mercedários.

Portanto, ao fundar a nova Ordem dos Mercedários na Igreja, São Pedro Nolasco determinou que seus membros devem professar 4 votos.  Porém, três deles são os mesmos professados por todas as instituições religiosas: o voto da pobreza, da castidade e da obediência. Já o voto professado exclusivamente pelos que escolhem a Ordem dos Mercedários para viver sua vocação na igreja é este:

“Todos os irmãos da Ordem devem sempre de bom grado estarem dispostos a abrir mão de suas vidas, se necessário for, como Jesus Cristo deu a sua por nós…” 

Assim, deste quarto voto, a Ordem dos Mercedários conta, atualmente, com mais de 200 mártires reconhecidos pela Igreja.

800 anos da Ordem dos Mercedários na Igreja

Em 2018, a Ordem dos Mercedários completou 800 anos de existência. São 800 anos de uma linda história de redenção dos cativos cristãos.

Na ocasião do Ano Jubilar desse importante marco, a família mercedária foi recebida pelo Papa Francisco no Vaticano. Cerca de 125 religiosos e religiosas da Ordem, de mais de 30 países, tiveram a alegria de ouvir palavras de incentivo do Sumo Pontífice e receber a sua bênção. 

Além do encontrou, o Santo Padre enviou uma carta para os Mercedários, com uma mensagem para este momento memorável, dirigida ao Mestre-Geral da Ordem. Nela, o Papa Francisco expressou: 

“No rico patrimônio da família mercedária, iniciado com os fundadores e enriquecido pelos membros da comunidade que se sucederam com o decorrer dos séculos, convergem todas as graças espirituais e materiais que recebestes. Este depósito faz-se expressão de uma história de amor que se enraíza no passado, mas sobretudo se encarna no presente e se abre ao futuro, nos dons que o Espírito continua a derramar hoje sobre cada um de vós”.

Leia aqui, a íntegra da carta do Santo Padre o Papa Francisco ao Mercedário por ocasião dos 800 anos da Ordem.

O frei Reginaldo Roberto Luiz ressaltou que o encontro com o Papa foi uma ocasião de encorajamento aos Mercedários a continuarem seu trabalho apostólico de fronteira das periferias.

A Obra Redentora dos Mercedários 

Ao longo desses 800 anos, o carisma redentor de Nolasco se espalhou pelo mundo. Assim, expandiu-se como a Igreja que sai para as periferias onde a liberdade continua a ser ameaçada, encarnando-se nestas tristes realidades, para promover caminhos de libertação.

Isso é fruto do Espírito Santo que, por meio dos Mercedários, se dispõe ao serviço das vítimas das mais diversas formas de escravidão. Os religiosos Mercedários levam a esses a salvação redentora de Deus Trino, que liberta e salva a todos de qualquer cativeiro e daqueles que desejam os obrigar a negar a fé cristã.

Contudo, a Ordem dos Mercedários realiza concretamente na Igreja, em todo o mundo, trabalhos em 7 classes pastorais. São elas: nas Paróquias, por meio da Pastoral Penitenciária, nos abrigos, nas escolas e projetos sociais, na Pastoral dos Migrantes e Refugiados e em Casas de Espiritualidade. 

A Ordem dos Mercedários em terras brasileiras

Os primeiros religiosos Mercedários chegaram ao Brasil em 1639, em Belém do Pará e na Arquidiocese de São Paulo. 

Desde então, os religiosos realizam um papel extremamente importante na evangelização. 

O trabalho pastoral dos Mercedários é realizado em projetos educacionais e sociais com crianças e jovens em situação de exclusão social e vítimas do tráfico de drogas.

Igualmente são feitos atendimento a idosos e famílias carentes, além dos trabalhos com a Pastoral da Criança e da Sobriedade. 

Nos dias atuais, os Mercedários estão presentes no Distrito Federal, em Belém do Pará, em São Paulo, no Rio de Janeiro, na Bahia, no Piauí e em Minas Gerais. 

Dos Mercedários, o título de Nossa Senhora das Mercês

Foi da Ordem das Mercês, ou seja, dos Mercedários, que surgiu a invocação e o título “Virgem Maria das Mercês”. A palavra “mercê”, no século 13, era sinônimo de obra de misericórdia. 

Tendo a Virgem Maria uma especial participação na fundação da Ordem, desde quando a solicitou a São Pedro Nolasco, é natural que os Mercedários dedicassem à Ela uma festividade própria. 

Por isso, em 1600 os Mercedários receberam a permissão da Igreja para celebrar a festa da Natividade de Maria sob o título de Nossa Senhora das Mercês. 

Anos depois, em 1616, concedeu-se à Ordem a celebração litúrgica da festa de Nossa Senhora das Mercês com textos próprios. E em 1696, seu culto estendeu-se para toda a Igreja graças ao Papa Inocêncio XII. 

Por isso, o dia de Nossa Senhora das Mercês é 24 de setembro. Para os Mercedário, trata-se de uma importante solenidade precedida de vigílias, oitava privilegiada e ofício próprio. 

Nossa Senhora das Mercês é a principal padroeira de Barcelona, cidade onde São Pedro Nolasco fundou a Ordem dos Mercedários.

A Oração a São Pedro Nolasco