Santíssimo Redentor
Por sua atividade apostólica e pelo quarto voto, o de redenção, a Ordem das Mercês sempre considerou Jesus Cristo com um Título especial, como mestre e modelo do religioso mercedário. Com o tempo, esse espírito manifestou-se na instituição de uma festa própria, concedida pela primeira vez em 1731.
Enquanto Redentor, Jesus é o epicentro do movimento espiritual mercedário. Os legisladores de 1272, contemplando a obra redentora de Jesus Cristo e estudando a obra de redenção de cristãos cativos posta em marcha por Pedro Nolasco, detectaram tal semelhança entre ambas que, excetuando distâncias infinitas, atreveram-se a assinalar as seguintes feições comuns a uma e outra.
As duas obras redentoras, a do Redentor Jesus e a do Redentor Pedro Nolasco, procedem da “grande misericórdia e piedade da Trindade Santa, Pai, Filho e Espírito Santo”.
As duas obras redentoras foram concebidas e realizadas em favor de cativos; a de Jesus, em favor “de toda a linhagem humana que se encontrava como em cárcere, cativa, em poder do diabo e do inferno”, e a de Pedro Nolasco, em favor “dos cristãos que estão em cativeiro, em poder de sarracenos e de outros inimigos de nossa Lei”.
As duas obras redentoras perpetuam-se em instituições visíveis e estáveis: a Igreja, de que Jesus Cristo, “servo de Iahweh,enviado pelo Pai”,é o fundador e promotor; e a Ordem da Virgem Maria das Mercês, de que “o Pai, o Filho e o Espírito Santo constituíram servidor, mensageiro, fundador e favorecer Frei Pedro Nolasco”.
A obra do Redentor Jesus foi levada a cabo com a livre e ativa cooperação maternal de Maria Virgem; e a obra redentora de Nolasco fez-se possível pela mediação eficaz de Maria, a Corredentora da humanidade.
A obra do Redentor Jesus teve, como causa impulsionadora, o amor misericordioso que o levou a “dar a vida por seus amigos”(Jo 15,13); e a obra redentora de Pedro Nolasco exige “que todos os frades dessa Ordem, como filhos de verdadeira obediência, estejam sempre alegremente dispostos a dar suas vidas, como a deu Jesus Cristo por nós”.
Diante da visão apaixonante do Cristo Redentor, compreende-se que as constituições de 1272 exigissem dos noviços, antes de fazer sua profissão, a promessa de “suportar, por amor a Jesus Cristo, todas as austeridades e pobreza da Ordem, durante toda sua vida”.
Voto de Redenção
Para cumprir esta missão, animados pela caridade, nos consagramos a Deus com um voto particular, chamado de Redenção, em virtude do qual prometemos dar a vida como Cristo a entregou por nós, se for necessário, para salvar os cristãos que se encontram em extremo perigo de perder sua fé, nas formas novas de cativeiro.
Este voto, assumido livremente, é característico de nossa Ordem, inspira todos os atos de sua obra redentora e qualifica o cumprimento de sua missão dentro da Igreja.
A missão da Ordem
As novas formas de cativeiro, que constituem o campo próprio da missão redentora e do quarto voto mercedários, acontecem ali onde há uma situação social em que a liberdade dos filhos de Deus é ameaçada e na qual convergem as seguintes condições:
1ª É opressora e degradante do ser humano;
2ª Nasce de princípios e sistemas opostos ao Evangelho;
3ª Põe em perigo a fé dos cristãos;
4ª Oferece a possibilidade de ajudar, visitar e redimir as pessoas que estão dentro dela.
O espírito redentor da Ordem encoraja toda a ação apostólica dos religiosos, de sorte que dele se alimentam e nele encontram sua própria unidade.
Os mercedários, vivendo nossa consagração religiosa com a atitude interior que comporta o quarto voto, cumprimos com espírito redentor os ministérios encomendados pela obediência, “para edificação do corpo de Cristo”. Por isso, nossa espiritualidade está centrada na figura do Santíssimo Redentor.