Noite da Inspiração da Ordem das Mercês

Era a noite do primeiro para o segundo dia de agosto de 1218. Segundo as antigas crônicas, São Pedro Nolasco ponderava sobre a possibilidade de se retirar para um deserto. Durante suas orações, consultando a Deus, a Santíssima Virgem Maria apareceu-lhe, instruindo-o a não se retirar para a solidão, mas sim a fundar uma nova ordem religiosa. A Ordem da Bem-Aventurada Virgem Maria das Mercês, teria como missão exercer caridade com os cativos, libertando-os da escravidão. A Virgem também indicou que ele deveria ser o primeiro a vestir o hábito branco da nova ordem.

São Pedro Nolasco conferiu sua visão com seu confessor São Raimundo de Peñafort e com o rei Dom Jaime I de Aragão, e ambos relataram ter recebido a mesma mensagem. Com o apoio do bispo de Barcelona, Dom Berenguer de Palou, e outros prelados, começaram as diligências para fundar a Ordem das Mercês. O nome da nova instituição, revelado divinamente, indicava claramente seu propósito: a redenção de cativos cristãos.

O evento da revelação da Santíssima Virgem a São Pedro Nolasco e outros envolvidos foi inicialmente de caráter privado. Poucas pessoas souberam no início, mas os efeitos dessa revelação deixaram marcas profundas na época de São Pedro Nolasco, perceptíveis até hoje. Uma nova devoção começou a honrar a Santíssima Virgem com a invocação da Misericórdia, e um grupo de homens heroicos, liderados por São Pedro Nolasco e movidos por essa devoção, dedicou-se a salvar seus irmãos cativos. Essa devoção e coragem foram o que mais impressionou a geração do século XIII.

A fundação da Ordem das Mercês foi um marco significativo na história da Igreja Católica. São Pedro Nolasco, estabeleceu uma rede de resgate que se estendia por toda a Europa e além, arrecadando fundos e negociando a libertação de cristãos escravizados pelos muçulmanos. A ordem cresceu rapidamente, recebendo apoio de diversas partes da sociedade medieval, incluindo nobres, comerciantes e clérigos.

A espiritualidade da Ordem das Mercês era profundamente enraizada na devoção à Virgem Maria, considerada a guia e protetora da missão redentora. O hábito branco dos mercedários simbolizava a pureza e a misericórdia, refletindo o compromisso com a libertação dos cativos e a caridade cristã. Ao longo dos séculos, a ordem continuou a evoluir, adaptando-se às necessidades de cada época, mas sempre mantendo a missão de redenção como seu núcleo central.

Hoje, a Ordem das Mercês mantém viva a chama da caridade e da misericórdia, trabalhando em diversas frentes para ajudar os necessitados e promover a justiça social. A noite de inspiração de São Pedro Nolasco permanece como um testemunho poderoso da fé e da dedicação à causa dos cativos, lembrando-nos da importância de agir em prol dos oprimidos e vulneráveis em nossa sociedade.

Mensagem Final – VII Capítulo Provincial da Ordem Mercedária no Brasil

Nós, frades mercedários, estivemos reunidos em Capítulo Provincial entre os dias
06-12 de janeiro de 2024, na cidade de São Paulo – SP. Éramos 23 frades de diversas
regiões do Brasil, inseridos em várias frentes de evangelização. Foi para nós uma
oportunidade de nos encontrarmos como irmãos, unidos pelo carisma de São Pedro
Nolasco, o qual continua a desafiar a humanidade a encontrar, em Cristo Redentor, a plena
liberdade de filhos e filhas de Deus, empenhando-se para promover a justiça e a paz.
O tema do nosso capítulo foi inspirado a partir do Sínodo da sinodalidade e pelo
III Ano Vocacional da Igreja no Brasil: Vocação Mercedária e Sinodalidade: graça e
missão, com lema: “Corações ardentes pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33). Em torno desta
temática vivenciamos:
O Capítulo Provincial foi um processo de abertura ao Espírito Santo, buscando
escutar de forma atenta e comprometida tanto o Evangelho como os irmãos, a realidade
que nos abraça e os cativos – rosto mais próximo de Jesus Redentor. Em sintonia com
nosso projeto Constitucional (COM 188, 2§) que indica que o Capítulo deve “examinar e
decidir sobre a vida religiosa, vocações e formação, apostolado mercedário, governo e
economia”, tivemos a oportunidade de avaliar a caminhada, identificar o presente e
projetar com esperança o futuro.
Recolhendo todas as contribuições num grande processo de escuta sinodal
ouvimos frades, formandos e leigos de nossas comunidades. Dessa forma, construímos o
projeto trienal, contemplando três eixos: vida fraterna, vocação e missão. Desejamos
assim redescobrir o primeiro amor (Ap 2, 4b) sabendo que somos parte de um projeto
comum “para organizar a esperança” em vista da missão redentora.
Nossa Província tem identidade, um caminho já percorrido – com acertos e
desafios – e busca revitalizar e ressignificar o carisma Mercedário em conversão
permanente e em fidelidade criativa. Após a celebração do centenário da segunda vinda
da Ordem ao Brasil, agradecemos a Deus os frutos deste grande labor missionário e
apostólico.
Finalizamos este VII Capítulo em clima de fraternidade e comunhão. Guiados pelo
Espírito Santo, que faz arder os nossos corações e nos impulsiona a nos colocarmos a
caminho, queremos continuar a ser portadores da boa nova da esperança e da liberdade
nestas Terras de Santa Cruz e além-mar, por onde o Senhor nos enviar.
Inspirados nas virtudes do grande Servo de Deus, Dom Inocêncio Lopez
Santamaria, modelo de missão e coração ardente, suplicamos a benção de Deus para fazer
frutificar tudo aquilo que foi semeado neste VII Capítulo da Província de São Raimundo
Nonato.