O provincial dos Padres Mercedários no Brasil, padre frei John Londerry, em entrevista concedida à Rádio Vaticano – Vatican News fala-nos sobre a celebração deste centenário da Família Mercedária em nosso país, a atualização do carisma da Ordem, os desafios pastorais e a realidade das vocações no Brasil. Destaca-nos, também, o grande trabalho de evangelização feito pelas irmãs mercedárias.
Ouça a entrevista ao provincial dos Mercedários no Brasil
Fundada em 1218 por São Pedro Nolasco, a Ordem de Nossa Senhora das Mercês, mais conhecida no Brasil como Ordem dos Padres Mercedários, está vivendo este 2022 um ano muito especial em nosso país, porque está celebrando 100 anos de presença no Brasil.
Recentemente, a Ordem Mercedária celebrou em Roma seu 17º Capítulo Geral, realizado de 30 de abril a 14 de maio, durante o qual foi recebida pelo Papa Francisco. A assembleia capitular, em plena sintonia com a origem mariana da família mercedária, teve como tema “Fazei tudo o que Ele vos disser”.
Um dos frades capitulares desta assembleia foi o provincial dos Padres Mercedários no Brasil, padre frei John Londerry. Entrevistado pela Rádio Vaticano – Vatican News, ele falou-nos, entre outros, sobre a celebração deste centenário, a atualização do carisma da Ordem, os desafios pastorais e a realidade das vocações no Brasil.
Ao apresentar-nos a Província dos Padres Mercedários no Brasil, padre frei John Londerry começa por destacar estes 100 anos de presença da Ordem Mercedária em terras brasileiras (ouça na íntegra clicando acima).
Dom Inocêncio López Santamaria, bispo que viveu no sertão do Piauí combatendo a fome, a seca e o analfabetismo, pode virar santo.
Uma equipe de Roma, contratada pela Ordem Mercedária do Brasil, exumou em fevereiro os restos mortais do religioso espanhol, que viveu por 27 anos no município de São Raimundo Nonato (a 517 km de Teresina). Santamaria morreu de câncer em 1958, aos 83 anos, em Salvador. Um dos milagres atribuído a ele seria um bebê que acordou do coma.
A exumação do corpo de dom Inocêncio faz parte do processo de beatificação e canonização autorizada pelo papa Francisco.
O bispo entra na lista de “servo de Deus” assim como Dom Helder Câmara, arcebispo de Recife (PE), Odete Vidal de Oliveira (Odetinha) e Zilda Arns. Todos vão passar por uma análise criteriosa da igreja Católica para serem beatos [se houver a confirmação de um milagre] e em seguida declarados santos [se comprovados dois milagres].
No Brasil, há seis religiosos canonizados. Outros 30 serão elevados a santos em outubro deste ano, conforme anunciou o Vaticano na última quinta (2). Se confirmado, dom Inocêncio será o 37º santo nacional.
Um Tribunal Eclesiástico foi instalado para investigar a vida de Dom Inocêncio que nasceu no dia 28 de dezembro de 1874, na aldeia de Sotovellanos, na província de Burgos, na Espanha.
Os restos mortais do bispo estavam enterrados dentro da catedral de São Raimundo Nonato, em frente ao altar. A cerimônia foi fechada e a catedral isolada.
Os especialistas em exumação do Vaticano encontraram intactos o anel do bispo, seu crucifico e o solidéu vermelho (boina em tecido).
Garrafa com água, uma surpresa
O Frei Rogério Soares, 37 anos, provincial da Ordem Mercedária do Brasil, que acompanha o processo de Dom Inocêncio, contou ao Cidadeverde.com que uma surpresa na exumação foi encontrar uma garrafa com água dentro da sepultura.
“Na ata constava que no sepulcro existia uma garrafa contendo papéis com breve relato de sua vida e quando abrimos a sepultura não encontramos nenhum texto, apenas uma garrafa com água. Isso foi uma grande surpresa”, conta o frei que acompanhou a exumação do corpo.
O próximo passo é levantar a história do bispo e coletar testemunhos de quem conviveu com dom Inocêncio. Cerca de 60 pessoas serão ouvidas, entre eles cinco padres vivos que conheceram o bispo. O processo, que será entregue ao Vaticano, deve durar mais de dois anos.
“A fama de santidade de dom Inocêncio permanece mesmo após 59 anos de sua morte. A sua principal característica é a humildade e a gentileza”, destacou Frei Rogério.
Construiu 28 escolas na zona rural
Dom Inocêncio chegou ao município piauiense em 1931 após andar por 12 dias a cavalo da Bahia ao interior do Piauí. Encontrou uma região em absoluto atraso. Sem energia elétrica, água potável, comunicação e nem estradas – que incluíve o impediu de tomar posse na cidade de Bom Jesus do Gurgueia. Por isso, ficou em São Raimundo Nonato. Frei Rogério Soares conta que Dom Inocêncio construiu mais de 28 escolas somente na zona rural de São Raimundo.
“O bispo tinha uma preocupação muito grande com a educação. Ele trazia professores para dar aula de latim, francês, música para a população pobre e acreditava que a cultura era também uma forma de desenvolvimento”.
Entre os documentos descobertos pelo Tribunal Eclesiástico estão cartas do bispo encaminhadas as autoridades pedindo ajuda para alimentação das famílias, estradas e água.
“Um dos testemunhos conta que Dom Inocêncio chegava a colocar dinheiro em um envelope e pedia alguém para pôr debaixo da porta da família que passava fome. Ele não entregava pessoalmente para evitar o constrangimento”, conta o Frei.
Com sua persistência e ajuda financeira de campanhas, foram construídas mais de 700 km de estradas, escolas em áreas rurais, poços, açudes e capelas entre 1931 a 1958.
Legado de santidade
O padre José Deusdará da Rocha, 75 anos, que foi aluno de Dom Inocêncio, conta que todos os consideravam santo mesmo em vida.
“O povo sempre teve uma devoção por ele e era visto antes de morrer como um santo. Quem conheceu Dom Inocêncio não conseguia se esquecer dele. Ele reunia duas qualidades raramente encontradas em uma só pessoa: a magnificência e a humildade”.
Segundo o padre Deusdará, o bispo era um intelectual e assumiu todos os costumes de São Raimundo Nonato. “Ele gostava muito de umbu e dizia que era a uva do Brasil. Era um homem de oração, não tinha palácio e morava com os outros padres e antecipou preocupação do Vaticano como o clero autóctone, formando vários padres na região”.
Quem também conviveu com Dom Inocêncio foi o padre José Herculano de Negreiros, 73 anos. Ele estuda o sacerdote há cerca de 50 anos e lançou o livro “Dom Inocêncio – o Piauí abriga um santo”.
“Ele era um santo em vida. Uma pessoa calma, meiga, sorridente e acolhedora. Recebia em sua residência desde bêbados a padres, visitava os doentes, os presos e era adorado pelas crianças. Foi um homem que se entregou por inteiro ao sacerdócio”, lembra o padre Herculano Negreiros, que também é da Ordem das Mercês.
No livro, o padre descreve Dom Inocêncio como um homem “determinado, obstinado e incansável”.
“Embrenhava em matas e caatingas expondo ao cansaço, a fome, a sede, e ao calor impiedoso…realizou um duro e austero trabalho humanitário, social e cultural na região”, descreve padre Herculano
Bebê acorda do coma
O bispo é venerado na região e seu túmulo recebe uma peregrinação de fiéis. Há pessoas que caminham descalços sobre o sepulcro em busca de cura para os pés e dores nas pernas.
O frei Rogério Soares informa que há relatos de milagres na região atribuída a intercessão de Dom Inocêncio. Dois casos são emblemáticos. Um aconteceu em outubro de 2016 quando um recém-nascido passou cinco dias em coma, sem temperatura corporal e sua tia, devota de Dom Inocêncio, fez orações pedindo intervenção do bispo e o bebê foi salvo.
Outra suposta graça envolve a recuperação de uma vítima de acidente de motocicleta ocorrido em 11 de março de 2008.
Trechos do livro de padre Herculano
Do alto clero em Madri a vida simples no Piauí
Filho de família pobre, Inocêncio López Santamaria nasceu no dia 28 de dezembro de 1874, na aldeia de Sotovellanos, na província de Burgos, na Espanha. Aos 15 anos foi para o seminário da Ordem de Nossa Senhora das Mercês no convento de Poyo, na Galícia.
Foi ordenado padre aos 22 anos. Sua vocação e dedicação se destacaram na igreja que foi designado vigário provincial e superior do convento de Madri. Dom Inocêncio chegou ao alto escalão e foi nomeado mestre geral da Ordem de Nossa Senhora das Mercês. Por 11 anos, ele morou em Roma. Com a dificuldade de encontrar sacerdote para ocupar o cargo criado em Bom Jesus do Gurgueia, no extremo Sul do Piauí, Inocêncio deixa Madri e com autorização do Papa Pio XI fez uma longa viagem até chegar a região considerada o polígono da seca. No País, ele funda a Congregação das Irmãs Mercedárias Missionárias do Brasil.
Uma característica marcante de Dom Inocêncio foi acreditar na superação da pobreza através da educação. Acometido com câncer no fígado, morreu em 9 de março de 1958, no Hospital Espanhol de Salvador, na Bahia. Era um bispo tão adorado que seu velório durou cinco dias passando por cidades da Bahia, Pernambuco até chegar em São Raimundo Nonato. Seu corpo foi sepultado no altar mor da catedral da cidade no dia 14 de março de 1958.
As ações missionárias dos Mercedários têm sua força nesta passagem bíblica:
“Disse-lhes outra vez: “A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós”.”(cf.Jo.20,21).
Mas o que significa missão para a Igreja e qual a sua importância para uma Ordem religiosa?
Antes de Jesus subir aos céus, Ele enviou os apóstolos para continuar a anunciar ao mundo o plano do Pai: a salvação do gênero humano.
Dessa forma, o envio do Mestre e a força do Espírito Santo em Pentecostes, os apóstolos seguiram com o anúncio do evangelho.
Porém, hoje, essa responsabilidade se estendeu à vida de cada batizado, pastoral, movimento e Ordem religiosa.
Portanto, à missão da Igreja se unem todos aqueles que desejam tornar Cristo amado e conhecido, e as ações missionárias dos Mercedários são parte dessa contribuição!
Vamos, então, conhecê-las e bendizer a Deus por tantas vidas salvas através delas. Confira!
A seta para as ações missionárias dos Mercedários
O Espírito Santo de Deus sempre encontra uma forma de atualizar o evangelho no mundo, e para isso, ele sabe com quem pode contar! Dessa forma, ele encontrou no coração de Pedro Nolasco a disponibilidade para começar uma obra bem específica.
Vale a pena lembrar, que a primeira inspiração de Pedro Nolasco aconteceu através do contato dele com os aprisionados pelos mouros como escravos para trabalhar na África.
E, então, Nolasco começou a pagar pela libertação deles, mas a Providência Divina já lhe reservava algo muito maior.
Assim, nasceu, no século XVIII, a Ordem Mercedária, uma família religiosa que traz o carisma do seu fundador – São Pedro Nolasco – e a missão de anunciar a libertação a todos os cativos, seja do corpo ou da alma.
Dessa forma, a Ordem Mercedária, ao longo de oito séculos, vem contribuindo com a edificação do reino de Deus através de suas ações missionárias.
E a primeira delas é levar a experiência de Deus ao coração de cada pessoa humana.
O Redentor nas ações missionárias dos Mercedários
Mas por onde começa a missão? A partir da acolhida do anúncio do evangelho em primeira pessoa.
Ou seja, quando cada um acolhe a palavra, a oração, a presença de Cristo nos sacramentos e faz seu caminho de retorno ao Amor de Deus.
Portanto, a missão começa com a busca pela conversão pessoal. No entanto, quem sempre tem a primeira iniciativa é Deus, como nos diz São João:
“Deus nos amou primeiro” (cf. I jo.4,19).
E há o momento de esse encontro amoroso se transformar em vocação.
Dessa forma, a primeira ação missionária dos Mercedários é o anúncio de Cristo com a própria vida!
E você sabia que os Mercedários fazem um quarto voto de redenção? Para dizer que estão dispostos a dar a própria vida pela salvação do outro.
Para os Mercedários, o Redentor é o centro do movimento espiritual em suas vidas e Ele traz a mensagem do Pai que os move: o amor misericordioso e toda obra redentora em favor de cada ser humano.
Logo, o carisma Mercedário de libertar os cativos se une à obra redentora do Salvador que deseja a liberdade de seus filhos e filhas, além de que a Virgem Maria tem uma grande participação nessa obra de evangelização.
A estrela das ações missionárias mercedárias
A Virgem Maria, a Senhora das Mercês, é a estrela que nos guia ao encontro com o seu filho Jesus.
Não é à toa que ela recebeu o título de “Estrela da nova evangelização”, porque ela nos aponta sempre o Cristo, logo não existe anúncio do reino sem passar por Ela.
De fato, Deus quis assim quando fez nascer a Ordem Mercedária, porque a visão que São Nolasco teve com a Virgem Maria foi decisiva para ele levar adiante a nova fundação em favor dos cativos. Dessa forma foi colocada, sobre a proteção e os cuidados de Nossa Senhora, com título de Mercês, todas as obras mercedárias.
As ações missionárias dos Mercedários têm uma Mãe misericordiosa e atenta às necessidades de seus filhos, prova disso são as ajudas recebidas, desde o início da Ordem, que eram dadas em honra a Nossa Senhora.
Agora, a experiência, o carisma, a espiritualidade e a missão foram ganhando forma ao longo dos anos e, hoje, as ações missionárias dos Mercedários é vista no rosto de cada pessoa alcançada e beneficiada por essa obra.
Vamos conhecer!
Ações missionárias dos Mercedários
A missão de um Mercedário é comunicar a libertação a toda pessoa humana e esse anúncio acontece de diversas formas, vamos elencar as principais.
As paróquias
A paróquia é o lugar da comunidade, dos irmãos, dos filhos (as) de Deus. E para o Mercedário, ela é lugar do encontro, do serviço, da celebração dos sacramentos, da liturgia, e a oportunidade de refletir o compromisso redentor da Trindade com o povo de Deus; o lugar da missão por excelência.
Atualmente, eles estão presentes em 4 continentes, 22 países e 152 comunidades.
As escolas
As Escolas Mercedárias são espaços de promoção de valores humanos e evangélicos, e um meio de formar cidadãos e cristãos livres dos cativeiros modernos.
Assim, a Ordem pensa e atua nesses ambientes promovendo uma educação libertadora que atinja todas as realidade sociais e econômicas, buscando uma resposta criativa e concreta para cada realidade.
A pastoral penitenciária é uma ação que se aproxima muito do carisma de São Pedro Nolasco, porém dentro de uma outra realidade.
Por isso, os Mercedários atuam nas penitenciárias prestando um serviço integral: para quem está preso, sua família, para os trabalhadores dos presídios, como também favorece e acompanha a inserção dos libertos na sociedade.
As casas de acolhida
As casas são locais de hospitalidade para pessoas com diferentes necessidades.
Portanto, a falta de casa, resgate da dignidade: imigrantes, viciados, moradores de rua, mulheres e/ou famílias vítimas de violência de género ou tráfico de seres humanos e outros flagelos que atacam a pós-modernidade.
Assim, elas encontram nas casas de acolhida um amparo e apoio necessários para enfrentar as fatalidades da vida.
Os projetos educativos e sociais
Os projetos atuam em diversas áreas, desde creches até recuperação de dependentes químicos e têm por objetivo trabalhar a consciência do povo diante de seus direitos e das situações de exploração, seja cultural, social ou econômica.
Assim, as ações missionárias Mercedárias visam incentivar nas pessoas o protagonismo de projetos; o fortalecimento de sua autoestima e a recuperação de suas histórias de vida.
Em resposta ao evangelho que diz: “Eu era estrangeiro e você me acolheu” e ao convite misericordioso do Pai, os Mercedários atuam junto ao irmãos migrantes e refugiados através do acolhimento, promoção da justiça, garantindo proteção e inclusão em diversas situações de vulnerabilidade.
Com cuidado redentor, os Mercedários procuram, por meio da ação pastoral, também atender a saúde psicológica, social e espiritual das pessoas com o propósito de buscar a recuperação integral da dignidade humana.
Os Centros de espiritualidade
As casas de espiritualidade Mercedária são presenças pastorais que tornam visíveis, de maneira especial e concreta, a missão redentora entre religiosos e leigos.
Logo, são coordenados e animados pelos religiosos Mercedários, com a ajuda de leigos que se identificam e pertencem à Ordem.
Estas áreas tornam presente o carisma redentor através de várias dimensões: culturais, espirituais, sociais, educacionais e outros.
Por fim, se a vida e a missão falam de Cristo Redentor e de sua Mãe, a Senhora das Mercês, então estamos no caminho certo. Venha conhecer de perto o que relatamos neste post.
O religioso mercedário é alguém que responde ao chamado de Deus todos os dias e preocupa-se com a redenção do povo que lhe foi confiado.
Há aproximadamente 450 religiosos mercedários no mundo, espalhados em 4 continentes, 23 países, 152 comunidades. Todos colocam em prática os ensinamentos do Evangelho a partir das inspirações do fundador São Pedro Nolasco.
Mas como vive esse religioso? Quais suas motivações e desafios? Vamos conhecer um pouco sobre a vida de um religioso mercedário a partir do carisma e espiritualidade da Obra, dois sustentáculos na vida deles.
Pedro Nolasco – o primeiro religioso mercedário
“É a partir do contato, da experiência concreta com os cativos, que Nolasco sente que o Evangelho deve se tornar carne em suas carnes.”
Assim começa a história do jovem comerciante Nolasco, mais tarde fundador da Ordem Mercedária, cujo brasão tem uma cruz de oito pontas com o emblema da Catedral da Espanha e símbolo do guerreiro cristão.
Por isso, se deve a origem do nome Ordem Real Celeste e Militar de Nossa Senhoras das Mercês, atualmente: Ordem da Bem-Aventurada Virgem Maria das Mercês ou Ordem Mercedária.
Agora, vamos relembrar essa história que marcou o ano de 1218 e rompeu oito séculos até chegar aqui, quando São Pedro Nolasco inquietou-se com a situação do cristãos capturados como escravos pelos mulçumanos na Espanha.
No entanto, essa inquietação era divina e transformou-se no sentido da vida de Nolasco. Então, em primeiro de agosto, enquanto suplicava a Deus sobre o que fazer com a situação dos cristãos prisioneiros, ele sentiu-se tocado por Nossa Senhora para libertar os cristãos cativos transformando o seu trabalho numa Ordem Religiosa.
Portanto, nasce na Igreja e para os homens a Ordem de Nossa Senhora das Mercês. Dessa forma, a presença de Maria, sua influência e modelo, traçam o perfil da nova Ordem religiosa.
Vamos falar sobre ela agora!
Nossa Senhora – inspiração do religioso mercedário
“Está fora de toda dúvida que a Ordem das Mercês nasceu, cresceu e atuou em clima de amor e devoção à Virgem Maria.”
Em vista disso, a presença de Nossa Senhora na história do religioso mercedário é escolha de Deus. Desde o início da Ordem, ela está presente e a obra ergueu-se sob sua proteção. O próprio nome “Mercês” foi atribuído a ela pelo Papa Alexandre IV, em 1258.
Dessa forma, o religioso mercedário tem por Nossa Senhora uma profunda devoção. E relatos da história da Ordem falam de práticas Marianas que nasceram na Ordem e se estenderam para toda a Igreja.
Por exemplo, o ofício diário de Santa Maria, a Missa e a Salve Rainha dos dias de sábado, sem falar das procissões e dos louvores em honra da Virgem em cada missão realizada.
Além de que, o título “Mercês” consolidou-se na Ordem devido a obra de misericórdia que acontecia em favor dos cativos, então era chamada de Obra da Mercês, que significa misericórdia. Logo, o nome de Maria foi associado a essa nova fundação.
E o que o religioso mercedário traz em si da Virgem Maria? Vamos juntar as peças desse grande mosaico para responder em breve.
Santíssimo Redentor – Centro do movimento mercedário
Não há dúvidas de que Jesus Cristo e seu Evangelho são fontes de inspiração para o religioso mercedário. Mas vamos conhecer que aspecto influencia para entender, logo mais, como vivem os membros da Ordem.
Ora, a obra de São Pedro Nolasco pôs em movimento a libertação em favor dos cristãos cativos, isso é fato consumado na história da Ordem. Em Cristo temos a redenção de todo gênero humano. Dessa forma, a obra começada por Nolasco se encontra dentro da proposta do Redentor.
Logo, a Ordem Mercedária é consumida pelo zelo do Salvador: libertar os cristãos cativos. Para tanto, o religioso mercedário realiza o quarto voto – de redenção – que significa a disposição de dar sua vida, se for preciso, pela libertação dos cristãos.
“A obra do Redentor Jesus teve como causa impulsionadora o amor misericordioso que o levou a “dar a vida por seus amigos”(Jo 15,13); e a obra redentora de Pedro Nolasco exige “que todos os frades dessa Ordem, como filhos de verdadeira obediência, estejam sempre alegremente dispostos a dar suas vidas, como a deu Jesus Cristo por nós”.
Como vive o religioso mercedário
“O Espírito do Senhor está sobre mim… Por isto me enviou para anunciar a liberdade aos cativos” (Lc 4,18).
O religioso mercedário é a pessoa que fez a experiência da libertação do mundo; abraça os conselhos evangélicos e mais o quarto voto de redenção, vivendo, ele mesmo, todos os dias, esse “êxodo” pessoal, em busca da vida nova em Cristo Jesus e ao lado de sua Mãe, a Senhora da Mercês.
Seu sim a Deus é um “não” ao poder, ao prazer e ao possuir, que constantemente aprisionam os filhos de Deus. E sua vida é uma resposta ao carisma e ao Evangelho hoje, porque a escravidão moderna tem uma nova roupagem, mas continua atormentando.
Portanto, a vida de um religioso mercedário acontece em vista desse carisma:
“Visitar e Libertar, levando o cativo para um lugar seguro (redenção)”, sendo, ele mesmo, o primeiro visitado por Deus.
“E até hoje existem prisioneiros, como sempre, mudam de geografia, mudam de forma, mudam de cor, mas a escravidão é uma realidade que se conforma cada vez mais. Cada vez mais e com mais variedade[…] Novas formas de escravidão, dissimuladas, desconhecidas, escondidas, pois são muitas. Até em megalópoles como Roma, Londres, Paris, em toda a parte, há formas de escravidão que proliferam[…]”.
Logo, o religioso mercedário encontra muitos motivos para entregar sua vida a Deus e pela redenção dos cativos.
Sob o manto da Virgem e do Redentor!
O religioso mercedário veste um hábito branco, acompanhado de um escapulário, que representa a pureza da Virgem Maria e as vestes do Ressuscitado! E traz o brasão da Ordem gravado no tecido branco.
Da mesma forma que São Pedro Nolasco se arriscou no resgate dos cristãos cativos, há 800 anos os seus filhos espirituais são chamados a fazer o mesmo. Os tempos são outros, porém a Providência Divina é a mesma e não os deixa sozinhos nesta jornada de redenção.
Que Nossa Senhora das Mercês, a escrava do Senhor, os ponha sempre a caminho.
Como pode uma história durar tanto tempo? Imagine 100 anos na vida de uma pessoa!? Ou ainda mais, um centenário de uma Ordem religiosa! Quantas histórias elas guardam! É exatamente de tempo e história que vamos conversar: conheça o centenário da chegada dos mercedários ao Brasil.
“Em 1922 o Papa Bento XV encomenda à Ordem a Prelazia de Bom Jesus do Gurgueia”, no Piauí. Em uma época difícil de evangelização, em terras distantes e desafiadoras, chegam os religiosos de São Pedro Nolasco.
Mas quem é São Pedro Nolasco? E de que Ordem estamos tratando? Nolasco é o fundador da Ordem dos Mercedários, que em 2018 comemorou 800 anos de existência no mundo, e em 2022 celebra 100 anos de sua chegada ao Brasil.
Sendo assim, há muita história, dor, entrega, obras e vocações ao longo de um século. Portanto, para celebrarmos essa data, preparamos este post especial.
Motivo da chegada do mercedários ao Brasil
Em 1922, os Mercedários celebravam o capítulo geral em Roma. Então, o recém-eleito Mestre Geral, padre Inocêncio López Santamaría, em uma conversa com o Papa Bento XV, expôs seu desejo de enviar missionários mercedários para a China.
No entanto, o santo Padre tinha outras urgências que a Providência Divina já preparava para a Ordem Mercedária: a evangelização em uma nova Prelazia ao Sul do Piauí, nas terras brasileiras.
Assim, após consulta aos capitulares em Roma, foi então aceito o pedido do Papa e nomeado como Administrador Apostólico o padre Pedro Pascual Miguel Martinez, da Província de Castela, no México.
Com certeza, há muita história, dor, entrega, obras e vocações ao longo de um século. Mas como tudo começou aqui no Brasil? Quem são os protagonistas desta jornada que deixou tantos frutos para as vidas e para a Igreja?
Em vista do centenário da chegada dos Mercedários ao Brasil, celebrando essa data, preparamos este post especial. Confira até o fim.
Piauí: terra do centenário da chegada dos mercedários ao Brasil
À época de 1922, o Brasil sofria os efeitos da gripe espanhola, uma pandemia que causou cerca de 35 mil mortes, entre 1918 e 1919; Também acontecia a semana de arte moderna em São Paulo, na tentativa de tirar a literatura das influências europeias.
Mas também, deram-se início às revoluções (Coluna Prestes, a criação do Partido Comunista) até o início da Era Vargas em 1930; sem falar na desigualdade, preconceitos e racismo que persistem até hoje. Tudo isso era o cenário do Brasil na década de vinte.
Ora, se nas grandes cidades se encontravam disputas políticas, dificuldade econômica e desigualdade social, imaginemos a situação das cidades e povoados mais distantes, de modo que era essa a realidade do Piauí e de muitas cidades do nordeste: carentes de tudo.
Assim, os primeiros Mercedários encontraram aquela província: um sertão esquecido, sem energia elétrica, indústrias, escolas, centros de saúde; muito menos estradas de rodagem para uma viagem menos perigosa.
Porém, não foi à toa que D. Fr. Pedro Pascual Miguel Martínez e o Pe. Francisco Freiria Mallo tiveram de viajar quatro meses em uma difícil caminhada, ficando em São Raimundo, a 517 km de Teresina, onde tomaram posse da prelazia, uma vez que era difícil o acesso a Bom Jesus do Gurguéia.
Um chão regado de suor e santidade
Com a chegada de outros missionários, formou-se a comunidade. Logo, deram início então a evangelização com muita dedicação, apesar de toda dificuldade de locomoção e as distâncias percorridas para visitar as famílias da região.
Sendo assim, passaram muitos missionários por esta vasta terra de missão e construíram a história do centenário dos Mercedários no Brasil. Um deles, padre Pedro Nolasco Rebiere, permaneceu apenas três meses, vindo a falecer vítima da febre que assolava o país.
Contudo, outro notável frei mercedário foi Dom Inocêncio López Santamaria. Sua dedicação e obras em favor do povo de sua diocese foi intensa. Ele era conhecido como Santo Inocêncio, porque sua atividade apostólica não se resumia na evangelização, mas se estendeu em favor das necessidades básicas da população.
Dessa forma, Dom Inocêncio foi um protagonista importante na escrita da história do centenário da chegada dos mercedários ao Brasil. São atribuídas a ele a construção de mais de 28 escolas, somente na zona rural de São Raimundo; 700 km de estradas, poços, açudes e capelas.
Por isso, hoje, encontra-se, na Cúria Romana, o processo de canonização de Dom Inocêncio como fruto maduro da entrega total dos freis naquela região. Mas cada religioso mercedário que passou pelas terras piauienses deixou um legado de suor e santidade.
Celebração do centenário
Uma grande comemoração pede uma celebração à altura. Com muitos motivos para agradecer a Deus, dia 06 de dezembro de 2021, houve a Missa de abertura das festividades do centenário da chegada dos mercedários ao Brasil.
Porém, as comemorações se estendem até o dia 14 de novembro, com a Missa de encerramento do ano jubilar. Há ainda, todo mês, lives que apresentam a vida de cada uma das nove comunidades existentes no Brasil.
Segundo o provincial dos Padres Mercedários no Brasil, padre frei John Londerry, em entrevista concedida à Rádio Vaticano, existem desafios a serem enfrentados no mundo moderno, mas há esperança e gratidão suficientes para seguirem adiante.
Também, como o Papa Francisco citou, em um encontro com os mercedários reunidos em Capítulo Geral, em maio deste ano, há muitas formas de escravidão na modernidade, bastante sutis, que necessitam do carisma mercedário como meio de libertação.
Portanto, essa fala do Santo Padre atualiza o carisma inspirado por São Pedro Nolasco e coloca cada religioso de prontidão para corresponder a sua vocação com vigor e atenção às realidades atuais.
“Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5)
A Bem-Aventurada Virgem Maria, a Senhora das Mercês, esteve sempre presente no caminho dos religiosos mercedários. Com certeza, Ela tem grande influência no centenário da chegada dos mercedários no Brasil.
Desde o início da Ordem, muitas doações eram feitas “em honra de Nosso Senhor Jesus Cristo e da Bem-Aventurada Virgem Maria, sua mãe”. Hoje as ofertas das vidas continuam pelos mesmos nomes e pela causa da redenção dos(as) filhos(as) de Deus.
De modo que, são muitas paróquias, escolas, creches, obras sociais e atividades pastorais desenvolvidas pela Ordem no Brasil. O que começou em 1922, estende-se até hoje e deseja ser e fazer o que Ele disser.
A história da Ordem dos Mercedários na Igreja começa com uma atitude de renúncia de um jovem que recebeu uma valorosa herança, cujo dinheiro usou unicamente em benefício do próximo.
Estamos falando de São Pedro Nolasco. Vamos conhecer sua história e a fundação da Ordem dos Mercedário na Igreja, cujos membros são conhecidos como freis ou frades mercedários.
Uma história de guerra e escravidão
Para compreendermos melhor como foi que tudo começou, precisamos voltar no tempo e olharmos para a realidade vivida por São Pedro Nolasco.
O jovem Pedro viveu em um tempo em que a Europa medieval vivia em guerras constantes, devido à expansão da cultura muçulmana que pretendia dominar o mundo.
Os cristãos precisavam lutar para defender sua fé, já que os árabes haviam tomado o Norte da África, grande parte da Espanha, o sul da França e a Sicília – região da Itália.
Além disso, os árabes sarracenos roubavam dos cristãos os alimentos, os animais, os metais preciosos e o dinheiro. E o mais absurdo: capturavam e prendiam mulheres, crianças e homens. Estes eram vendidos como escravos por um bom preço ou então eram usados como moeda de troca em transações comerciais.
Ao longo de mais de 600 anos, conflitos armados fizeram numerosos prisioneiros cristãos.
Ao mesmo tempo, nestes tempos, surgiram muitos hospitais fundados por Ordens Monásticas, além de centenas de instituições de caridade, que foram estabelecidas por confrarias da Igreja ou por fiéis leigos. O objetivo era sempre ajudar os cristãos cativos a se libertarem dos mulçumanos.
Um desses leigos que fez a diferença nesta dura e infeliz realidade foi o jovem São Pedro Nolasco.
Desde pequeno, São Pedro Nolasco foi caridoso
São Pedro Nolasco nasceu entre 1180 e 1882, em uma família de posses da França. Foi uma criança feliz, mas que amava o silêncio, o recolhimento e a oração.
Outra característica marcante que surgiu na sua infância, e que o acompanhou por toda a vida, foi a prática constante da caridade.
Dessa maneira, o pequeno Pedro Nolasco costumava ajudar com um prato de comida a todos que batiam à porta do castelo onde morava. E não foram poucas as vezes em que tirou o casaco do próprio corpo para entregar a uma criança que sofria com o frio por estar mal agasalhada, nas ruas.
Antes de tudo, para ele, o mais importante era socorrer o próximo, sem se importar consigo mesmo. E quando ele não tinha com o que ajudar, chorava de tristeza.
Na juventude, São Pedro Nolasco mudou-se com a família para a Espanha. Logo começou a acompanhar o pai na tarefa de vender mercadorias pelas cidades litorâneas. Foi então que ele se deparou com uma triste realidade que não apenas causou-lhe espanto, mas que mudou para sempre a sua vida.
Inúmeras vezes ele pôde testemunhar os maus tratos dos cristãos cativos que eram escravizados, negociados como mercadoria, ou mantidos como reféns dos muçulmanos. Pedro Nolasco desejou ardentemente poder ajudar esses irmãos na fé.
Uma herança de redenção
Porém, logo o jovem Nolasco perdeu seus pais e recebeu uma rica herança. Apesar da prática da caridade ser constante em sua vida, ele estava acostumado ao conforto do lar e a ter tudo o que sempre precisou.
Mas isso não o impediu de tomar uma atitude radical. Aqueles que o conheciam, certamente não se surpreenderam, porém para o mundo o que ele fez facilmente pode ser considerado como loucura.
Afinal, qual foi a atitude desse jovem? Pedro Nolasco, em 1203, com apenas 20 anos, começou a usar o dinheiro da sua herança para a redenção dos cativos. E para isso usou até as suas últimas moedas para comprar a libertação dos cristãos. Ele cuidava também para que esses cristãos não perdessem a fé.
Por meio da caridade que realizou, Pedro Nolasco queria configurar-se ao próprio Cristo. Visitou os cativos como Jesus visita, quis libertá-los como Jesus liberta.
Contudo, mesmo depois de 15 anos se dedicando a esse trabalho, Nolasco notou que o número de cristãos que eram feitos escravos só aumentava, dia após dia.
Mas, talvez o que ele não soubesse, é que foram esses 15 anos que permitiram a São Pedro Nolasco ser preparado por Deus para algo grandioso: fundar e cuidar de uma frondosa obra na Igreja, a Ordem dos Mercedários.
Ordem dos Mercedários na Igreja: o chamado
A história relata que na noite do dia primeiro de agosto de 1218, São Pedro Nolasco estava muito inquieto em seu coração. Angustiado com a situação dos cristãos cativos, ele sabia que deveria fazer algo a mais, por isso clamava por uma inspiração divina.
Foi então que Nolasco foi consolado pela Virgem Maria, que naquele momento foi também para ele portadora de um convite do próprio Deus. “É vontade do meu Filho e minha que fundes uma família religiosa para a redenção dos cativos cristãos”.
Assim, o Senhor desejava que São Pedro Nolasco continuasse o seu trabalho em favor da libertação dos cristãos cativos, porém, agora, a partir de uma Ordem Religiosa que ele deveria fundar.
Estamos falando da Ordem de Nossa Senhora das Mercês, também chamada de Ordem da Redenção dos Cativos ou ainda da Ordem dos Mercedários.
Para esta nova Ordem, São Pedro Nolasco teve o apoio do Rei Jaime de Aragão e do Bispo de Barcelona, Dom Berenguer Palau. Contudo, conta-se que também o Rei Jaime havia tido uma visão de Nossa Senhora na qual Ela lhe pedia a fundação de uma Ordem para cuidar dos cristãos detidos pelos muçulmanos.
Além disso, São Raimundo de Penaforte, o confessor de Pedro Nolasco, também o encorajou e o ajudou nesse processo.
O próprio São Pedro Nolasco foi o primeiro a ser investido com o escapulário mercedário da Ordem, branco, em homenagem à pureza da Virgem Maria. Também Dom Berenguer presenteou a nova Ordem dos Mercedários com a cruz da catedral de Barcelona. Já o Rei Jaime deu a Nolasco o brasão de armas da Coroa de Aragão.
Foi então a partir desses dois presentes que o fundador desenvolveu o escudo mercedário.
Confirmação Pontifícia da Ordem
A Ordem dos Mercedários surgiu na Igreja em 10 de agosto de 1218. Ela é fruto do amor heroico que o jovem Nolasco tinha pelos cristãos cativos que sofriam porque escolhiam não renunciar à própria fé.
Neste primeiro momento, a Ordem era uma comunidade restrita à Igreja de Barcelona, e ficava aos cuidados do bispo de Barcelona.
Contudo, em 1235, deu um grande passo recebendo a Confirmação Pontifícia da Igreja, o que a tornou unida diretamente com o bispo de Roma, ou seja, com o Papa na época Gregório IX.
Por meio da Confirmação Pontifícia, o Sumo Pontífice confirma aquilo que já existe na vida da Igreja.
Neste tempo, a Ordem dos Mercedários já havia crescido, possuindo 4 conventos e o Mestre Geral era o seu fundador, Pedro Nolasco.
O Carisma da Ordem dos Mercedários
O carisma é a identidade de uma Ordem religiosa e deve ser vivido por todos os seus membros.
As constituições da Ordem dos Mercedário determinam: “trabalhem – os frades – de bom coração e de boa vontade em visitar e libertar os cristãos que estão em cativeiro, e em poder dos sarracenos ou de outros inimigos de nossa fé”. Ou seja, este é o carisma dos Mercedários.
Portanto, ao fundar a nova Ordem dos Mercedários na Igreja, São Pedro Nolasco determinou que seus membros devem professar 4 votos. Porém, três deles são os mesmos professados por todas as instituições religiosas: o voto da pobreza, da castidade e da obediência. Já o voto professado exclusivamente pelos que escolhem a Ordem dos Mercedários para viver sua vocação na igreja é este:
“Todos os irmãos da Ordem devem sempre de bom grado estarem dispostos a abrir mão de suas vidas, se necessário for, como Jesus Cristo deu a sua por nós…”
Assim, deste quarto voto, a Ordem dos Mercedários conta, atualmente, com mais de 200 mártires reconhecidos pela Igreja.
800 anos da Ordem dos Mercedários na Igreja
Em 2018, a Ordem dos Mercedários completou 800 anos de existência. São 800 anos de uma linda história de redenção dos cativos cristãos.
Na ocasião do Ano Jubilar desse importante marco, a família mercedária foi recebida pelo Papa Francisco no Vaticano. Cerca de 125 religiosos e religiosas da Ordem, de mais de 30 países, tiveram a alegria de ouvir palavras de incentivo do Sumo Pontífice e receber a sua bênção.
Além do encontrou, o Santo Padre enviou uma carta para os Mercedários, com uma mensagem para este momento memorável, dirigida ao Mestre-Geral da Ordem. Nela, o Papa Francisco expressou:
“No rico patrimônio da família mercedária, iniciado com os fundadores e enriquecido pelos membros da comunidade que se sucederam com o decorrer dos séculos, convergem todas as graças espirituais e materiais que recebestes. Este depósito faz-se expressão de uma história de amor que se enraíza no passado, mas sobretudo se encarna no presente e se abre ao futuro, nos dons que o Espírito continua a derramar hoje sobre cada um de vós”.
O frei Reginaldo Roberto Luiz ressaltou que o encontro com o Papa foi uma ocasião de encorajamento aos Mercedários a continuarem seu trabalho apostólico de fronteira das periferias.
A Obra Redentora dos Mercedários
Ao longo desses 800 anos, o carisma redentor de Nolasco se espalhou pelo mundo. Assim, expandiu-se como a Igreja que sai para as periferias onde a liberdade continua a ser ameaçada, encarnando-se nestas tristes realidades, para promover caminhos de libertação.
Isso é fruto do Espírito Santo que, por meio dos Mercedários, se dispõe ao serviço das vítimas das mais diversas formas de escravidão. Os religiosos Mercedários levam a esses a salvação redentora de Deus Trino, que liberta e salva a todos de qualquer cativeiro e daqueles que desejam os obrigar a negar a fé cristã.
Contudo, a Ordem dos Mercedários realiza concretamente na Igreja, em todo o mundo, trabalhos em 7 classes pastorais. São elas: nas Paróquias, por meio da Pastoral Penitenciária, nos abrigos, nas escolas e projetos sociais, na Pastoral dos Migrantes e Refugiados e em Casas de Espiritualidade.
A Ordem dos Mercedários em terras brasileiras
Os primeiros religiosos Mercedários chegaram ao Brasil em 1639, em Belém do Pará e na Arquidiocese de São Paulo.
Desde então, os religiosos realizam um papel extremamente importante na evangelização.
O trabalho pastoral dos Mercedários é realizado em projetos educacionais e sociais com crianças e jovens em situação de exclusão social e vítimas do tráfico de drogas.
Igualmente são feitos atendimento a idosos e famílias carentes, além dos trabalhos com a Pastoral da Criança e da Sobriedade.
Nos dias atuais, os Mercedários estão presentes no Distrito Federal, em Belém do Pará, em São Paulo, no Rio de Janeiro, na Bahia, no Piauí e em Minas Gerais.
Dos Mercedários, o título de Nossa Senhora das Mercês
Foi da Ordem das Mercês, ou seja, dos Mercedários, que surgiu a invocação e o título “Virgem Maria das Mercês”. A palavra “mercê”, no século 13, era sinônimo de obra de misericórdia.
Tendo a Virgem Maria uma especial participação na fundação da Ordem, desde quando a solicitou a São Pedro Nolasco, é natural que os Mercedários dedicassem à Ela uma festividade própria.
Por isso, em 1600 os Mercedários receberam a permissão da Igreja para celebrar a festa da Natividade de Maria sob o título de Nossa Senhora das Mercês.
Anos depois, em 1616, concedeu-se à Ordem a celebração litúrgica da festa de Nossa Senhora das Mercês com textos próprios. E em 1696, seu culto estendeu-se para toda a Igreja graças ao Papa Inocêncio XII.
Por isso, o dia de Nossa Senhora das Mercês é 24 de setembro. Para os Mercedário, trata-se de uma importante solenidade precedida de vigílias, oitava privilegiada e ofício próprio.
Nossa Senhora das Mercês é a principal padroeira de Barcelona, cidade onde São Pedro Nolasco fundou a Ordem dos Mercedários.
A história é uma sucessão de fatos que explica acontecimentos importantes para a humanidade. E a Ordem Mercedária merece destaque na história da Igreja a partir do século XIII. Mas quais os relatos da Ordem Mercedária no Brasil?
Primeiramente vamos lembrar quem foi o jovem fundador dos Mercedários. Ele se chamava Pedro Nolasco, era filho de comerciantes e sua família possuía muitos bens. Na sua época, os cristãos católicos eram feitos escravos pelos mulçumanos para trabalhos forçados.
Ora, Nolasco começou a comprar esses cristãos com seus próprios recursos até que, por inspiração divina, fundou uma Ordem religiosa, em honra a Nossa Senhora das Mercês, em benefício dessas pessoas.
Dessa forma, nasce a Ordem Mercedária cujo carisma é a redenção dos cativos, hoje materializada de diversas formas, não apenas fisicamente, mas psicológica e espiritualmente.
Hoje essa Ordem Religiosa é dotada de muitos santos, entre eles o fundador, beatos e mártires, como também tem uma grande contribuição na história da Igreja e da humanidade. Vamos detalhar neste post a história deles no Brasil.
Capitania do Grão-Pará – entrada da Ordem Mercedária no Brasil
A entrada dos Mercedários no Brasil se deu em 1639, em Belém do Pará, através do convite do Capitão Pedro Teixeira, quando ele esteve em Quito – Equador, em busca de sacerdotes para dar assistência ao povo português que morava na região brasileira.
Ora, o capitão admirou-se com a devoção do povo aos Mercedários em Quito e então pediu ao Bispo local, Fr. Pedro de Oviedo, e ao Pe. Provincial dos Mercedários, Frei Francisco Muñoz Baena, se dignasse fundar um Convento em Belém do Grão Pará.
Dessa forma, em 12 de dezembro de 1639, chegaram a Belém quatro religiosos: sendo dois irmãos leigos e dois sacerdotes: o Pe. Alonso de Armijo e o Pe. Pedro de la Rúa Cirne. E ainda outros dois padres mercedários se juntaram a eles na missão.
Piauí – segunda entrada da Ordem Mercedária no Brasil
A Ordem Mercedária sempre esteve bem atenta à vida missionária e por causa disso aceitou um pedido do Papa Bento XV para assumir a prelazia de Bom Jesus do Gurgueia – Piauí que foi negada por duas Ordens religiosas na época.
Portanto, em 28 de junho de 1922, chegaram os primeiros Mercedários em terras piauienses após uma longa e desafiante viagem até São Raimundo Nonato. Notáveis missionários Mercedários passaram pela missão do Piauí, inclusive D. Fr. Inocêncio López Santamaria que passou 26 anos como bispo na missão.
Assim, primeiro no Pará e depois no Piauí, a Ordem Mercedária no Brasil semeou o evangelho de Jesus Cristo e testemunhou o carisma mercedário, estendendo a obra para muitos outros estados brasileiros.
Contribuição dos Mercedários no Brasil
Como toda vida religiosa, a Ordem Mercedária deixou grande contribuição na construção do Brasil do século XVI. Conforme historiadores e fontes documentais, a Ordem dedicou-se especialmente ao ensino religioso e à alfabetização das pessoas, dos filhos dos colonos e entre elas, os índios.
Portanto, grande foi a influência deles desde o início. Relatos documentais dizem que o convento de Belém era um importante centro de ensino, com uma grande biblioteca, formada por diversos campos do conhecimento: História, Geografia, Ciências Naturais, Filosofia, Teologia, Direito Canônico, a literatura francesa, latina e lusitana.
Além do canto que encantava os colonos e indígenas, eram usados instrumentos como o órgão e o cravo. Assim eles serviam como meio para aproximação entre os nativos e contribuía para a evangelização de todos.
No entanto, nas terras piauienses não foi diferente. A presença de Dom Inocêncio Santamaria – Bispo Mercedário – trouxe grandes melhorias para a diocese de São Raimundo Nonato, local totalmente carente e desprovido de ajuda pública.
Por isso, são atribuídas a ele a construção de mais de 28 escolas, somente na zona rural de São Raimundo; 700 km de estradas, poços, açudes e capelas; a fundação da Congregação das Irmãs Mercedárias Missionárias do Brasil e a formação de um clero natural da região.
Uma obra que comemorou 800 anos
“Missionários da primeira hora em vários países da América Latina assim como os franciscanos, dominicanos e jesuítas”, essas foram as palavras dirigidas à Ordem Mercedária pelo jornal do Vaticano, em virtude da comemoração dos seus 800 anos de fundação em 2019.
E qual a Obra mais importante da Ordem? É exatamente a vivência do carisma que permanece fiel aos ensinamentos de São Pedro Nolasco: a redenção dos cativos; hoje é um socorro para a vida humana que sofre diversas espécies de escravidão.
“No mundo e no Brasil, há um comércio de pessoas acontecendo. São pessoas exploradas sexualmente, para o trabalho, para o uso de órgãos. Existem muitas realidades de trabalho que colocam as pessoas em situação de escravidão e exploração. Temos que trabalhar para que todos possam viver com dignidade. A dignidade humana não tem preço. Isso continua sendo tarefa permanente nossa”
Portanto, a ação missionária dos Mercedários é muito atual e relevante para a sociedade globalizada e carente de verdadeiras testemunhas do Cristo Vivo.
E o Papa Francisco atualizou bem a presença mercedária no mundo quando disse:
“No rico patrimônio da família mercedária, iniciado com os fundadores e enriquecido pelos membros da comunidade que se seguiram ao longo dos séculos, reúnem-se todas as graças espirituais e materiais que vocês têm recebido. Este depósito torna-se a expressão de uma história de amor que está enraizada no passado, mas que, acima de tudo, está encarnada no presente e aberta para o futuro, nos dons que o Espírito continua a derramar hoje em cada um de vocês”
Presença Mercedária no Brasil hoje
Mais de três séculos de história no Brasil! Não é um trabalho que os mercedários prestam ao povo de Deus, mas a entrega das vidas na pessoa de cada missionário que já pisou nestas terras.
Hoje a presença da Ordem Mercedária no Brasil ocupa espaços significativos principalmente entre os mais marginalizados da sociedade brasileira.
O Recanto Mercê, por exemplo, acolhe dependentes químicos que livremente desejam ser libertos de drogas, álcool e tantos outros tipos de vícios, com uma casa de recuperação em Anápolis-GO.
Há, ainda, as paróquias em Brasília, Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Piauí. Como também as escolas, creches e a participação nas pastorais, e uma delas bem expressiva que é pastoral carcerária com ativa presença dos Mercedários.
Portanto, a história da Ordem Mercedária no Brasil se confunde com a própria história do povo brasileiro! Demos graças a Deus por este carisma e suas vocações.
O carisma de uma família religiosa é um dom particular concedido pelo Espírito Santo em resposta aos apelos da humanidade por salvação e uma dessas respostas foi a Ordem dos Mercedários.
Um jovem chamado Pedro Nolasco, no século XIII, começou um trabalho no resgate dos cristãos, capturados por mulçumanos e levados para o norte da África como escravos, através do pagamento por suas vidas.
Tendo em vista essa necessidade, que crescia cada vez mais, nasceu a Ordem das Mercês composta por frades que davam sua própria vida em troca de um escravo cristão.
No entanto, esse gesto redentor do homem já havia acontecido através de Jesus Cristo e todo mistério de sua paixão, morte e ressurreição.
Porém, outras situações de cativeiro oriundas do pecado surgiram e foram alcançadas por homens que entregam suas vidas a Deus pela mesma causa de Redenção.
Eis a palavra que deu a esses religiosos a coragem de entregar suas vidas: Redenção. Mas o que ela tem em comum com a redenção de Jesus e o que ela significa para os Mercedários?
Sobre Vocação e redenção que vamos conversar neste post.
Obra redentora do Filho de Deus
“Eu vim para que as ovelhas tenham vida e para que a tenham em abundância.” (cf. Jo.10,10). Essas palavras de Cristo se realizaram totalmente através de sua entrega na cruz.
Ou seja, a paixão, morte e ressurreição de Cristo nos deram uma vida nova, completa como filhos de Deus!
Sendo assim, através de Cristo, deu-se a obra da Redenção do gênero humano. Mas o que significa “Redenção”? É o ato ou efeito de libertar, reabilitar, salvar.
Então, Cristo nos libertou totalmente e nos devolveu a liberdade dos filhos e filhas amados do Pai.
E para os Mercedários, Jesus Cristo é o libertador “de toda a linhagem humana que se encontrava como em cárcere, cativa, em poder do diabo e do inferno”.
E São Pedro Nolasco encontrou no Mestre a inspiração para continuar a libertação dos cristãos cativos.
Obra redentora de São Pedro Nolasco e os Mercedários
Quem foi São Pedro Nolasco? Um jovem inspirado por Deus que se empenhou na luta contra a escravidão dos cristãos pelos mulçumanos. Assim, ele os resgatava comprando a liberdade de suas vidas com seus próprios bens, depois com a ajuda financeira de amigos.
No entanto, o Espírito Santo já preparava uma obra magnífica que permaneceria, para além dos séculos!
Com o passar dos anos, o chamado de Pedro Nolasco estendeu-se para a luta contra todo tipo de escravidão que impedisse o homem de viver sua vocação de filho de Deus.
Dessa forma, após uma visão com Nossa Senhora que apareceu lhe dizendo para fundar uma ordem com o objetivo de proteger os cristãos e libertar os fiéis cativos, nasceu a Ordem dos Mercedários, com Nossa Senhora das Mercês como sua protetora.
Semelhanças da obra de Redenção com os Mercedários
A redenção realizada pela Santíssima Trindade em favor do gênero humano é inspiração para toda Ordem Mercedária até os dias atuais.
Diante disso, há semelhanças que os estudiosos observaram entre a plena redenção de Jesus Cristo e a redenção proposta pelo carisma Mercedário.
Por exemplo: “As duas obras redentoras, a do Redentor Jesus e a do Redentor Pedro Nolasco, procedem da “grande misericórdia e piedade da Trindade Santa, Pai, Filho e Espírito Santo”.
“A obra do Redentor Jesus foi levada a cabo com a livre e ativa cooperação maternal de Maria Virgem; e a obra redentora de Nolasco fez-se possível pela mediação eficaz de Maria, a Mãe de misericórdia.”
A obra do Redentor Jesus teve como fonte o amor misericordioso que o levou a “dar a vida por seus amigos”(Jo 15,13). Assim, essa obra redentora exige “que os frades estejam dispostos a dar suas vidas, como a deu Jesus Cristo por nós”.
A entrega da vida dos Mercedários se concretiza de diversas formas. Como toda Ordem religiosa na Igreja, eles abraçam os conselhos evangélicos de pobreza, obediência e castidade para se assemelharem ao Divino Mestre.
No entanto, os Mercedários ainda abraçam outra causa que lhes confere um quarto voto: o voto de redenção.
Ou seja, significa o empenho total por causa da libertação do próximo e, se for preciso, dar a própria vida, como fizeram muitos irmãos mercedários na história da Ordem.
Conta-se que nos inícios da Ordem das Mercês pelo menos 3000 cativos foram resgatados por São Pedro Nolasco e seus companheiros. Os religiosos organizavam expedições nos capítulos para resgatar os cativos, e muitas vezes acabavam ficando no lugar deles como moeda de pagamento pela liberdade daqueles que estavam em risco de apostar de sua fé cristã.
A vida e a missão apaixonante do carisma Mercedários já deu muitos santos à Igreja e continua atraindo pessoas com o mesmo desejo: tornar Jesus Cristo – Redentor dos Homens – amado, conhecido e adorado.
Os séculos XII e XIII foram um período conturbado para o cristianismo. Muitos cristãos na Europa foram capturados e feitos escravos pelos muçulmanos, devido à invasão dos árabes sarracenos. E foi nesse cenário que viveu São Pedro Nolasco, um dos santos mercedários.
Sua memória litúrgica é celebrada na igreja no dia 6 de maio. Por isso, é o seu testemunho de vida que vamos apresentar para você hoje.
Contudo, mais do que um dos santos mercedários, São Pedro Nolasco é o fundador desta Ordem. Seu testemunho de vida é inebriante. Prepare o seu coração!
Uma infância de oração e caridade
Este que está entre os mais importantes santos mercedários nasceu na França, em uma família nobre. Não se sabe exatamente o ano do seu nascimento. Algumas biografias apontam que foi entre os anos de 1180 e 1182.
O certo é que, desde criança, este santo fundador dos mercedários não se parecia em nada com os da sua idade. O pequeno Pedro amava a oração, o silêncio e o recolhimento. Dedicava-se por longo tempo à oração, como quem se mantém entretido com o mais prazeroso dos passatempos.
A todos que batiam à porta do castelo onde morava, pedindo alimento ou esmola, ele prestava ajuda com o mais sincero sorriso e compaixão. E nos seus passeios, ao encontrar um necessitado, agia com generosidade em favor deles.
Contudo, nas vezes em que não tinha nada de seu para partilhar, o garoto caia no choro até que o adulto que o acompanhava cedesse a ele algumas moedas para que pudesse partilhar.
Não foram poucas as vezes que voltou para casa sem o seu casaco, encolhido de frio, porque encontrou na rua crianças pobres que não tinham roupas adequadas para enfrentar a temperatura baixa.
Dessa forma suas atitudes já evidenciavam a sua vocação.
A fortuna que herdou usou para sustentar obras de caridade
A vida espiritual de São Pedro Nolasco foi se aprofundando conforme o passar dos anos. E não demorou para ele perceber que Deus o chamava para um seguimento mais radical.
Contudo, sua família arranjou-lhe um casamento, o que ele negou de imediato, pois já havia decidido consagrar sua castidade a Maria Santíssima.
Logo, seus pais faleceram e este santo mercedário herdou uma fortuna considerável. Ele a administrou com sabedoria, multiplicando-a, mas não por ganância, mas por misericórdia.
Ele tinha planos de caridade para todo o dinheiro que possuía: usar para ajudar os necessitados. E foi assim que ele começou suas obras de assistência espiritual e material.
Este santo mercedário é conhecido como o redentor dos cativos
De maneira especial, estas palavras de Jesus o tocavam profundamente: “estive preso, e fostes visitar-Me” (Mateus 25,36); “o Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Me ungiu; e enviou-Me […] para anunciar aos cativos a redenção” (Lucas 4,18-19). Ele as tomou para si como uma missão especial.
Por isso, a prática de caridade que mais atraía São Pedro Nolasco era conseguir a libertação dos inúmeros cristãos presos nos reinos árabes da Península e do norte da África.
Eram homens, mulheres, crianças e idosos que viviam em regime de trabalho forçado, em condições precárias de higiene e alimentação, sujeitos a toda espécie de humilhação e padecimento. Além disso, eram privados dos sacramentos.
Muitos perdiam a fé, alguns rendiam-se ao desespero ou à devassidão. Contudo, outros, tais como o povo hebreu, clamavam “e, do fundo de sua escravidão, subiu o seu clamor até Deus” (Êxodo 2,23).
E a esses, Deus enviou São Pedro Nolasco! Por amor a Jesus e ao próximo, especialmente aos cativos, ele começou a tratar da libertação dos cristãos do reino de Valência.
Admirado pelo povo
Quando realizou sua primeira missão, tinha pouco mais de 20 anos. Usou todo o dinheiro que tinha para comprar a liberdade de 300 cristãos.
Como resultado essas pessoas foram recebidas em Barcelona, com manifestações de alegria. O povo cantava, em ação de graças, louvando a Deus pela libertação, algo que para eles foi um milagre.
Contudo, essa primeira ação foi apenas como que uma gota retirada do oceano, diante da vultosa quantidade de cristão escravizados. Ele sabia que não poderia parar por aí. Por isso, passou a pedir esmolas em Barcelona para as famílias nobres e ricas a fim de continuar sua missão.
Assim, a Providência Divina aconteceu. Ele partiu diversas vezes para Valência, Múrcia, Maiorca, Argel e Tunísia para negociar a libertação de outros cristãos. E não demorou para que este santo mercedário conquistasse a simpatia de alguns soberanos muçulmanos destes reinos.
Este sentimento logo se transformou em admiração por parte de muitos deles.
Uma visão confirma a Nolasco sua vocação e missão
No ano de 1203, este santo mercedário estava absorto em oração quando teve uma visão profética.
Ele via uma frondosa oliveira, carregada de frutos maduros, prontos para serem colhidos. Em seguida, alguns varões aproximaram-se e disseram a ele que Deus o havia incumbido de cuidar dessa árvore e protegê-la de todo ataque.
Depois, um grupo de homens violentos romperam em direção a árvore, com fúria, para destruí-la. Pedro reagiu e a defendeu com valentia, impedindo que sofresse qualquer infortúnio.
O ímpeto desse santo mercedário foi maior que a ira daqueles homens, que se retiram derrotados.
Após essa visão mística, Pedro Nolasco sentiu-se confirmado na missão de libertar os cativos. Porém agora ele tinha certeza de que a disposição que o movia a trabalhar pelo resgate dos cristãos cativos vinha do próprio Deus. Era o Senhor quem o chamava para esta missão.
Não demorou muito para que Nolasco fundasse uma humilde e pequena confraria, que tinha por objetivo angariar auxílio e recursos para a sua missão de vida.
A Virgem Maria vem em auxílio de Nolasco
São Pedro Nolasco saiba que nunca teria dinheiro suficiente para libertar os cristãos, apesar de ter articulado valorosos homens, da alta nobreza, sacerdotes piedosos. Ele conseguiu doadores de diversas regiões.
Além disso, outra preocupação o inquietava: Após sua morte, esta obra desapareceria?
Quando estava prestes a se desesperar por isso, aconteceu algo que transformou a vida desse santo mercedário.
A Santíssima Virgem Maria apareceu para ele. Era a madrugada do dia 2 de agosto de 1218. No dia anterior, a Igreja celebrava, a partir do calendário litúrgico medieval, a festa da libertação do Príncipe dos Apóstolos do cárcere (cf. At 5,17-19), chamada São Pedro das Cadeias.
Em sua aparição, Maria sugeriu a Nolasco que fundasse uma Ordem Religiosa em honra de suas misericórdias, portanto, de suas mercês. Esta nova Ordem teria como principal missão a libertação dos cristãos cativos e o louvor de sua imaculada Conceição.
Desta maneira, a missão de São Pedro Nolasco não se findaria quando ele partisse para junto de Deus, mas se perpetuaria.
O nascimento da Ordem dos Mercedários
E foi assim que nasceu a Ordem de Nossa Senhora das Mercês, também conhecida como Ordem dos Mercedários, em 1218.
Seus membros, além dos votos de castidade, obediência e pobreza, professam o quarto voto: “todos os frades desta Ordem, como filhos da verdadeira obediência, estejam sempre alegremente dispostos a dar suas vidas, como Jesus Cristo a deu por nós”.
O que isso significa? O quarto voto dos mercedários determina que, se for necessário, o religioso fica no lugar de algum cativo, caso não tenha o dinheiro para o seu resgate.
Mas por quê? Porque “ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos” (Jo 15,13).
Santo Mercedário
Pedro Nolasco, o primeiro dos santos mercedários, fundador da Ordem dos Mercedários seguiu sua vida com destemor e audácia na missão que lhe foi confiada. Por isso mereceu o título de libertador dos cativos.
Ele partiu para a vida eterna em 6 de maio de 1256. Sua fama de santidade logo se espalhou pelo mundo. Foi canonizado pelo papa Urbano VIII, em 1628.
A festa litúrgica deste que foi um dos maiores santos mercedários é em 6 de maio.
Roguemos a São Pedro Nolasco que inflame nosso coração de amor por aqueles que necessitam libertar-se de qualquer tipo de escravidão. E, mais do que isso, que o seu exemplo nos inflame de coragem para fazer o melhor pelo outro. Que assim haja também muitos outros santos mercedários espalhados pelo mundo todo!
O Papa Francisco, no documento sobre santidade, diz :
“Cada cristão, quanto mais se santifica, tanto mais fecundo se torna para o mundo”.
Essas palavras descrevem bem a vida de Dom Inocêncio.
A santidade é um dom derramado sobre nós através do batismo. Somos, então, o povo santo de Deus por causa de Sua graça presente em nossa vida, e como nos comunica o Papa Francisco “a santidade é possível e não é inatingível!”
Assim, como cristão comprometido com o Evangelho, como Pastor a serviço de seu povo, viveu Dom Inocêncio Santamaria – Bispo Mercedário – testemunha da santidade simples, no cotidiano da missão e no meio do povo piauiense.
É para falar desse servo de Deus que preparamos este post. Dom Inocêncio, em breve, será elevado aos altares da Igreja e, desde já, podemos conhecer seu exemplo e seguir os passos do Mestre e da santíssima Virgem Maria a quem ele tanto amou.
História de Dom Inocêncio
O Servo de Deus Dom Inocêncio López Santamaria nasceu na aldeia de Sotovellanos, na província de Burgos, comarca de Odra-Pisuerga, na Espanha, no dia 28 de dezembro de 1874.
Os pais de Dom Inocêncio, Eduardo e Vitória, eram muito pobres, tiveram quatro filhos, três morreram ainda crianças, ficando apenas Inocêncio, que aos 15 anos ingressou na Ordem das Mercês no Convento de Conjo, em Santiago de Compostela.
Desde sua entrega a Deus, dedicou-se inteiramente ao serviço do Reino. Assumiu diversas funções e responsabilidades na Ordem, até ser sagrado bispo em Poio, Pontevedra, no dia 31 de agosto de 1930, festa do mártir mercedário, São Raimundo Nonato, de quem era muito devoto.
Então, diante da necessidade de um bispo, em uma região muito carente do Brasil, Dom Inocêncio atendeu ao apelo do Papa Pio XI.
Logo chegou ao Brasil no dia 5 de janeiro de 1931, tomou posse no dia 18 de fevereiro do mesmo mês, no município de São Raimundo Nonato/Piauí.
Contam que o bispo chegou ao município após andar 12 dias a cavalo, da Bahia ao interior do Piauí. Lá encontrou uma região em absoluto atraso, sem energia elétrica, água potável, comunicação e nem estradas.
Mas nada o impediu de prosseguir com sua missão. Desde já, ele dava sinais de humildade, disposição e alegria, características comuns aos santos. Dom Inocêncio ficou conhecido no meio do povo de sua diocese como Santo Inocêncio.
Preocupação com os pobres de Deus
“O bispo tinha uma preocupação muito grande com a educação. Ele trazia professores para dar aula de latim, francês, música para a população pobre e acreditava que a cultura era também uma forma de desenvolvimento”,conta Frei Rogério Soares, padre Mercedário.
“…Dom Inocêncio chegava a colocar dinheiro em um envelope e pedia alguém para pôr debaixo da porta da família que passava fome. Ele não entregava pessoalmente para evitar o constrangimento”,atesta o Frei Rogério Soares, padre Mercedário.
A partir dos testemunhos e das obras se conhece a vida dos santos. Assim foi com Dom Inocêncio, em sua diocese. Ele era incansável e pregou o Evangelho, proporcionando a fé e a dignidade ao povo de Deus.
Ainda são atribuídas a ele a construção de mais de 28 escolas, somente na zona rural de São Raimundo; 700 km de estradas, poços, açudes e capelas; a fundação da Congregação das Irmãs Mercedárias Missionárias do Brasil e a formação de um clero natural da região.
Desta forma, fica claro o quanto Dom Inocêncio acreditava na transformação das piores situações sociais através da educação e de políticas públicas em favor do povo. Ele comprometeu-se com a salvação e foi até o fim.
Processo de canonização de Dom Inocêncio
“Embrenhava-se em matas e caatingas expondo-se ao cansaço, à fome, à sede, e ao calor impiedoso…realizou um duro e austero trabalho humanitário, social e cultural na região”, descreve Pe. Herculano – Ordem Mercedária.
Assim viveu Dom Inocêncio durante 26 anos como bispo, no estado do Piauí. Já com 80 anos, recebeu a ajuda de um bispo auxiliar e aos 84, sofrendo de um tumor no fígado, fez seu encontro definitivo com Deus, no dia 09 de março de 1958.
No entanto, sua fama de santidade era conhecida pelo povo. Seu funeral começou na Catedral de Juazeiro-BA, passou pela Catedral de Petrolina-PE, pela igreja de Remanso-BA, até chegar à Catedral de São Raimundo Nonato-PI, onde uma imensa multidão o aguardava.
Hoje seus restos mortais repousam no altar mor da catedral da cidade de São Raimundo Nonato. E em 2016, foi instalado o Tribunal Eclesiástico para a Causa de Beatificação e Canonização do religioso.
Dessa forma, a vida e a obra de Dom Inocêncio são estudadas pela Igreja através dos testemunhos colhidos, dos escritos deixados e dos milagres realizados.
“Dom Inocêncio foi um verdadeiro modelo para os bispos. Um exemplo perfeito, pelas suas virtudes e pelo seu espírito de trabalho. Carregando o peso dos seus 83 anos, prosseguiu trabalhando como sempre”, escreveu o bispo auxiliar Dom José Vázquez.
Com tantos testemunhos e virtudes, resta-nos rezar: Dom Inocêncio, bispo Mercedário, rogai por nós.