Os séculos XII e XIII foram um período conturbado para o cristianismo. Muitos cristãos na Europa foram capturados e feitos escravos pelos muçulmanos, devido à invasão dos árabes sarracenos. E foi nesse cenário que viveu São Pedro Nolasco, um dos santos mercedários.
Sua memória litúrgica é celebrada na igreja no dia 6 de maio. Por isso, é o seu testemunho de vida que vamos apresentar para você hoje.
Contudo, mais do que um dos santos mercedários, São Pedro Nolasco é o fundador desta Ordem. Seu testemunho de vida é inebriante. Prepare o seu coração!
Uma infância de oração e caridade
Este que está entre os mais importantes santos mercedários nasceu na França, em uma família nobre. Não se sabe exatamente o ano do seu nascimento. Algumas biografias apontam que foi entre os anos de 1180 e 1182.
O certo é que, desde criança, este santo fundador dos mercedários não se parecia em nada com os da sua idade. O pequeno Pedro amava a oração, o silêncio e o recolhimento. Dedicava-se por longo tempo à oração, como quem se mantém entretido com o mais prazeroso dos passatempos.
A todos que batiam à porta do castelo onde morava, pedindo alimento ou esmola, ele prestava ajuda com o mais sincero sorriso e compaixão. E nos seus passeios, ao encontrar um necessitado, agia com generosidade em favor deles.
Contudo, nas vezes em que não tinha nada de seu para partilhar, o garoto caia no choro até que o adulto que o acompanhava cedesse a ele algumas moedas para que pudesse partilhar.
Não foram poucas as vezes que voltou para casa sem o seu casaco, encolhido de frio, porque encontrou na rua crianças pobres que não tinham roupas adequadas para enfrentar a temperatura baixa.
Dessa forma suas atitudes já evidenciavam a sua vocação.
A fortuna que herdou usou para sustentar obras de caridade
A vida espiritual de São Pedro Nolasco foi se aprofundando conforme o passar dos anos. E não demorou para ele perceber que Deus o chamava para um seguimento mais radical.
Contudo, sua família arranjou-lhe um casamento, o que ele negou de imediato, pois já havia decidido consagrar sua castidade a Maria Santíssima.
Logo, seus pais faleceram e este santo mercedário herdou uma fortuna considerável. Ele a administrou com sabedoria, multiplicando-a, mas não por ganância, mas por misericórdia.
Ele tinha planos de caridade para todo o dinheiro que possuía: usar para ajudar os necessitados. E foi assim que ele começou suas obras de assistência espiritual e material.
Este santo mercedário é conhecido como o redentor dos cativos
De maneira especial, estas palavras de Jesus o tocavam profundamente: “estive preso, e fostes visitar-Me” (Mateus 25,36); “o Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Me ungiu; e enviou-Me […] para anunciar aos cativos a redenção” (Lucas 4,18-19). Ele as tomou para si como uma missão especial.
Por isso, a prática de caridade que mais atraía São Pedro Nolasco era conseguir a libertação dos inúmeros cristãos presos nos reinos árabes da Península e do norte da África.
Eram homens, mulheres, crianças e idosos que viviam em regime de trabalho forçado, em condições precárias de higiene e alimentação, sujeitos a toda espécie de humilhação e padecimento. Além disso, eram privados dos sacramentos.
Muitos perdiam a fé, alguns rendiam-se ao desespero ou à devassidão. Contudo, outros, tais como o povo hebreu, clamavam “e, do fundo de sua escravidão, subiu o seu clamor até Deus” (Êxodo 2,23).
E a esses, Deus enviou São Pedro Nolasco! Por amor a Jesus e ao próximo, especialmente aos cativos, ele começou a tratar da libertação dos cristãos do reino de Valência.
Admirado pelo povo
Quando realizou sua primeira missão, tinha pouco mais de 20 anos. Usou todo o dinheiro que tinha para comprar a liberdade de 300 cristãos.
Como resultado essas pessoas foram recebidas em Barcelona, com manifestações de alegria. O povo cantava, em ação de graças, louvando a Deus pela libertação, algo que para eles foi um milagre.
Contudo, essa primeira ação foi apenas como que uma gota retirada do oceano, diante da vultosa quantidade de cristão escravizados. Ele sabia que não poderia parar por aí. Por isso, passou a pedir esmolas em Barcelona para as famílias nobres e ricas a fim de continuar sua missão.
Assim, a Providência Divina aconteceu. Ele partiu diversas vezes para Valência, Múrcia, Maiorca, Argel e Tunísia para negociar a libertação de outros cristãos. E não demorou para que este santo mercedário conquistasse a simpatia de alguns soberanos muçulmanos destes reinos.
Este sentimento logo se transformou em admiração por parte de muitos deles.
Uma visão confirma a Nolasco sua vocação e missão
No ano de 1203, este santo mercedário estava absorto em oração quando teve uma visão profética.
Ele via uma frondosa oliveira, carregada de frutos maduros, prontos para serem colhidos. Em seguida, alguns varões aproximaram-se e disseram a ele que Deus o havia incumbido de cuidar dessa árvore e protegê-la de todo ataque.
Depois, um grupo de homens violentos romperam em direção a árvore, com fúria, para destruí-la. Pedro reagiu e a defendeu com valentia, impedindo que sofresse qualquer infortúnio.
O ímpeto desse santo mercedário foi maior que a ira daqueles homens, que se retiram derrotados.
Após essa visão mística, Pedro Nolasco sentiu-se confirmado na missão de libertar os cativos. Porém agora ele tinha certeza de que a disposição que o movia a trabalhar pelo resgate dos cristãos cativos vinha do próprio Deus. Era o Senhor quem o chamava para esta missão.
Não demorou muito para que Nolasco fundasse uma humilde e pequena confraria, que tinha por objetivo angariar auxílio e recursos para a sua missão de vida.
A Virgem Maria vem em auxílio de Nolasco
São Pedro Nolasco saiba que nunca teria dinheiro suficiente para libertar os cristãos, apesar de ter articulado valorosos homens, da alta nobreza, sacerdotes piedosos. Ele conseguiu doadores de diversas regiões.
Além disso, outra preocupação o inquietava: Após sua morte, esta obra desapareceria?
Quando estava prestes a se desesperar por isso, aconteceu algo que transformou a vida desse santo mercedário.
A Santíssima Virgem Maria apareceu para ele. Era a madrugada do dia 2 de agosto de 1218. No dia anterior, a Igreja celebrava, a partir do calendário litúrgico medieval, a festa da libertação do Príncipe dos Apóstolos do cárcere (cf. At 5,17-19), chamada São Pedro das Cadeias.
Em sua aparição, Maria sugeriu a Nolasco que fundasse uma Ordem Religiosa em honra de suas misericórdias, portanto, de suas mercês. Esta nova Ordem teria como principal missão a libertação dos cristãos cativos e o louvor de sua imaculada Conceição.
Desta maneira, a missão de São Pedro Nolasco não se findaria quando ele partisse para junto de Deus, mas se perpetuaria.
O nascimento da Ordem dos Mercedários
E foi assim que nasceu a Ordem de Nossa Senhora das Mercês, também conhecida como Ordem dos Mercedários, em 1218.
Seus membros, além dos votos de castidade, obediência e pobreza, professam o quarto voto: “todos os frades desta Ordem, como filhos da verdadeira obediência, estejam sempre alegremente dispostos a dar suas vidas, como Jesus Cristo a deu por nós”.
O que isso significa? O quarto voto dos mercedários determina que, se for necessário, o religioso fica no lugar de algum cativo, caso não tenha o dinheiro para o seu resgate.
Mas por quê? Porque “ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos” (Jo 15,13).
Santo Mercedário
Pedro Nolasco, o primeiro dos santos mercedários, fundador da Ordem dos Mercedários seguiu sua vida com destemor e audácia na missão que lhe foi confiada. Por isso mereceu o título de libertador dos cativos.
Ele partiu para a vida eterna em 6 de maio de 1256. Sua fama de santidade logo se espalhou pelo mundo. Foi canonizado pelo papa Urbano VIII, em 1628.
A festa litúrgica deste que foi um dos maiores santos mercedários é em 6 de maio.
Roguemos a São Pedro Nolasco que inflame nosso coração de amor por aqueles que necessitam libertar-se de qualquer tipo de escravidão. E, mais do que isso, que o seu exemplo nos inflame de coragem para fazer o melhor pelo outro. Que assim haja também muitos outros santos mercedários espalhados pelo mundo todo!
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